Versos loucos de um poeta boêmio!

terça-feira, janeiro 16, 2007

Quem precisa de rimas?


Rimar não é tão fácil quanto parece. E como certa vez me disse um amigo, prende suas percepções um pouco, já que a lógica pode dar lugar à palavra. Ainda assim prefiro poemas métricos, mas acabo me reservando situações pra não obedecê-las... abaixo, alguns poemas assim... épocas diversas, mas basicamente no mesmo contexto dos demais...
Como um girassol neste chuvoso novembro

Ouço as palavras que saem silenciosas
sem o veneno da perda
ou a mágoa do arrependimento.
Caia em meu jardim
Na mais secreta e ruidosa manhã
enchendo de vida e de gozo
o desespero que grita pra ser ouvido.
Toque o céu ao adormecer
e sinta-se à vontade
caso queira receber de volta
o amor que a ninguém mais pertence.
Outro dia chega ao fim
e nesta solidão quase seminarista
eu atravesso a passos curtos
nossa lembrança de não ser somente um.
Fez-me falta cada dia – não nego!
Mas o hoje sempre foi pior
por ser presente o minuto
que louvo em meu verso sem rima.
E por isto abro a janela.
- Entre! E numa lágrima breve
de quem aguardou uma vida toda,
a recebo em meus braços
como um girassol neste chuvoso novembro.


25/11/2005 – 17:37hs.
*Girassol. A flor preferida de quem se destina esta ode. alguém sabe me dizer por que saudade aumenta nos dias chuvosos?*
16:32

Tudo cabe aqui dentro:
amor, receio, medo e carinho;
e agora que fazes parte
do sorriso que não quer mais sair deste rosto
de homem bobo, sem reação
diante o garoto
envergonhado, descobrindo-se
num mundo que o quer como causa
sem fazer perguntas
sem pedir respostas.
Teus lábios em minha boca
insinuando o novo com quem pede abrigo,
escolhendo entre todas as dúvidas, o talvez.
Por que causa-te espanto
enxergar felicidade
onde há pouco não havia um rumo,
onde há tanto faltava um caminho?
E agora
por não respirar sem tua ajuda
por não sentir sem tua presença
quer você dividindo
pra dois – nós dois! – e mais ninguém
o amor que nasceu arbitrário
mas só pela fato de acontecer
deixa em paz este coração que se abre
e exige que você fique
.

14/09/2006 – 19:30hs.
*Irônico dizer que o maor naceu arbitrário. Nunca há arbitrariedade em sentimento algum, seja ele bom ou não. Mesmo quando se dispensa a previsão, alguns romances já nascem pontuados pelo final, disso eu sei.*
Ensaio único do arlequim enamorado

Vês! Enquanto eu retiro apressado e sem jeito
Frente ao espelho trincado de mágoa
a maquilagem borrada do ultimo romance
que sem dar certo
que sem se dar conta,
acabou gotejando veneno
no canto dos lábios que não me beijaram
que não se cederam
ao falso encanto desta minha ingenuidade mesquinha,
essa divina comédia bizarra
sem graça
como uma piada precedendo o riso
como a dor antecedendo o corte,
a bola empoeirada na ponta do sapato
indicando o contrário
o caminho curto de uma semi breve vida
que se senta na praça e apenas observa
a lembrança que ficou impregnada de medo
infestada de nojo
na garrafa vazia que esqueceu de aliviar
a ansiedade noturna da primeira sexta-feira em casa,
o mesmo nome
rejeitando com a quietude dos tímidos
meu quase carinho
que já não pode mais tornar-se amor
porque pra fazer das cinzas um outro carnaval
este arlequim enamorado precisa de outro palhaço...

27/05/2005 – 21:45hs.
*Sempre me questionei por que neste enredo de folia, sempre quem nunca se deu mal foi a colombina. Aqui há uma tentativa de mudança, onde o pierrot e o arlequim resolvem o que vai ser feito sem depender dela. Não há assunto delicado, é folia, e não é preciso explicar tais coisas.*
Ou não?

Ou o medo que nos mira,
ou a ira que nos toma?
Ou o susto que nos guia
ou a bruma que nos cega?
Ou o antes que não cessa
ou a pressa que nos muda?
Ou o erro que me ensina
ou a sina que o comete?
Ou a dor que nos escolhe
ou a morte que não chega?
Ou a tarde que não finda
ou o não que me excita?
Ou o fim que se aproxima
ou a rima que se perde?
Ou a raiva que nos une
ou a vida que se entreva?

10/06/2006 – 20:00hs.
* Um mezzo Caetano Veloso em não dizer muita coisa. Mas o título sugere a segunda possibilidade em tudo.*
O minuto que precede o fim

Contemplo o soturno
por um meio riso de euforia e saudade.
A completa tristeza
do minuto que precede o fim
na carta de despedida absoluta.
Lou Reed no rádio
adentrando a madrugada
seringa e agulha no antebraço
e a garganta seca de nicotina,
um orgasmo fétido
- autofelação promíscua?
das páginas coladas de gozo
e perversão adolescente
numa propaganda de lingerie.
Contemplo a nudez
eriçando de frio o púbis depilado
e limpo.
A completa orgia
do minuto que precede o fim
na tântrica posição de repouso.
Supergrass na mente
comedindo o paladar
a se desprover da língua
ao que deseja enfiá-la
salivante
no corpo usado da mais velha puta
maquilagem e suor
na esquina que invejo.
Contemplo a necrofilia
com o tesão caricato
e impotente.
A completa vontade
de mutilar-me à gilete
e deixar de ser um pouco eu.
Coca-cola no copo
o bar aguardando o freguês
no balcão impregnado de gordura
o cadáver que não paga a bebida
mas deseja a garrafa
- mais um hímen dilacerado?
perfurando o clitóris, sem nojo
ou medo do imperdoável desejo
de voltar à vida novamente...

04/03/2005 – 14:00hs.
* Todo mundo se lembra dos instantes finais, do minuto que fica guardado antes da tragédia. Ou comédia. Vida grega de complicações, mas nada é bizarro se visto pela ótica do realismo. fantástico, que seja!*
Pós boemia (o dia seguinte)

Acordou com a pior cara de domingo
a chuva regando no varal
as roupas com cheiro de mofo.
Calçou as sandálias
- o par trocado de havaianas imundas
o grampo de cabelo
na ponta azul do chinelo.
Bocejou um arroto de vinho
a parede manchada, doze anos
de bolor e reboco.
Acordou com o supercílio rasgado
talvez a queda do degrau
um a um na descida íngrime
do boteco pré-datado de embriaguez.
Lavou o rosto na água morna
o ano respingando imundície
no esgoto entupido do banheiro,
a escova de cerdas sedentas
da putrefação da gengiva
cepacol e aspirina
matando germes inofensivos.
A lâmina com pêlos de outro
acumulando resquício hepático
de um fígado paterno
- com esta eu não me corto!
Acordou com o pijama molhado
polução noturna
num sonho incestuoso
de transar a própria mãe
ejaculando fora
por medo de um descendente disforme.
Tomou o café amargo
a mosca engasgando a campainha
depois de procurar
na borda trincada do copo de vidro
o resto de morte
de um inseto menor.
Acordou acariciando o membro rijo
o tesão involuntário
sem preservativo
pecando só na primeira hora do dia.

21/04/2005 – 07:00hs.
* Acordando sem ressaca, uma vez que boêmios não possuem isto. Coisa de alcoólatra tal verbete. "Roda viva" por Ney Matogrosso dando o tom do domingo...*
Negação

A negação absoluta da existência divina
enquanto segue o cortejo
fúnebre e carnavalesco
de um pontífice bem vestido em seda e ouro
pela esmola indulgente
do homem sem casa
que sabe ser mais barato
um terreno de quinta categoria no céu
ao sonho de uma vida quase real...
A negação absoluta da presença paterna
enquanto segue a labuta
mal remunerada e imunda
de um patriarca pseudoreligioso
onde o gozo e luxúria
foram negociados a escambo
pelo pecado que se comete
ao crer no que se vê a olho nu
porque a rádio transmite gol a gol
a mesma partida da tevê preto e branco...
A negação absoluta da existência própria
enquanto segue o desespero
falsa calma e passividade
de um homem que acredita ser
que de melhor ele conhece
e portanto, senão outra vontade
passa-lhe a não nomeá-la morte...

05/04/2005 – 21:00hs.
* A melhor maneira de acreditar em algo é antes negá-lo absurdamente. E eis minha fase de transição.*
Voyer

Excita-me o corpo desabotoado
mangas dobradas
exalando pecado
no suor que desce pelo peito
sem ritmo
e adentra o mundo
que minha boca cobiça saber o gosto,
sentir o amargo da língua
deslizar a pele ofegante
e entender a causa
da eterna ameaça de querer o impossível
o inesperado
o impensável prazer pela culpa.
Excita-me o corpo despenteado
riso largo, orelha a orelha
transpirando pecado
no quase amor que não se cumpre
sem beijo
e adentra o zíper
que minhas mãos desejam possuir,
sentir o doce do sexo
eriçar os pêlos inquietos
e entender a causa
da constante ameaça de desistir do possível
o esperado
o fato antecedendo o depois...

21/03/2005 – 03:00hs.
*Quem nunca apenas observou o deslizar calmo e sexy de alguém pela pista de dança? Poema se tornando vontade. Em Juiz de Fora.*


Estar só
ficar só
completamente
absurdamente
fantasiosamente
espantosamente só
sozinho, sem ninguém
ser ninguém
e se ninguém
me olha só e me resgata
eu desabo e choro.
E ninguém me ouve
ninguém me escuta
ninguém me conforta
por que minha solidão reluta
em ser só
infimamente
atrevidamente
displicentemente
covardemente só
sozinho, abandonado, sem ninguém
ser ninguém
e se ninguém
me olha só e me resgata
eu desabo e choro.
E ninguém me diz
ninguém me tira
ninguém me consola
a vida que foi a mentira
mais triste que vivi
szinho
por que minha solidão
de tanto ser companhia
cansou de mim também
e foi viver sozinha...


19/11/2004 – 19:00hs.

*Estar sozinho sempre só fez sentido quando por opção. Casos contrários é loucura.*

pra sempre

Eu desencarno de vez desta alma disforme.
Num aprendizado tolo
do fim insone de madrugada
acomodando no papel a vontade de ser junto
o que não cabe mais em um.
Alicio, eu sei,
meio a contragosto
o absurdo de não causar
uma terceira má-impressão.
- E não consigo!
Absorvo-me em choro
contido – tenha certeza! –
mas que não deixa de ser pranto,
ao que apodrece no peito
esse músculo taquicárdico, sensível
que só bate por que cansou de apanhar.
Mas nesta hora mais escura
acampando em volta num vago sentido de razão,
eu absolvo cada pecado
por não acontecer ritmicamente
ao som da melodia que toca desafinada
em seus lábios de cera, em meus olhos de chumbo
que p’ra esquecer que um dia amou
agarra-se novamente onde, por pouco,
não foi, em definitivo,
pra sempre.

27/05/2005 – 1:53hs.

* Tentar eternizar os minutos fugazes. Quanta ingenuidade meu Deus!*


05:54

Começou como a piada mal contada
o sorriso de disfarce
tentando ser o que o coração não sente.
E neste fim de noite
a lua detrás do muro
e o beijo de bom dia
pela mentira pronta a ser fato
no minuto que rabisca o desejo
de ser outro
de ter outro
neste canto vazio de cama
que sentiu a saudade
na falta do controle
da situação absurda
do dia que não quis terminar.
Bêbado, na vontade de não querer o óbvio
a quase verdade irrealizada
ao corpo que incita o pecado
mais casto
mas casto
é o enredo que encerra na manhã
que virou poema
por não se deixar acontecer...

11/04/2005

* Horas e datas. Fim de noite, madrugadam início do dia. E não havia ninguém pra ouvir.*

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Monólogos


Os monólogos abaixo não seguem ordem alguma. Apenas foram listados juntos por um critério pessoal. Alguns são tentativas de dizer a alguém, alguns de reconquista, perda, alguns são coisas que gostaria de ter ouvido, coisas que precisava ter dito. Ou é apenas a minha visão de uma situação, que me deixando excludente dela, eu daria a sugestão ( não pedida), de outrem a outrem. Nomes reais, nomes fictícios, homens que podem ser mulheres, garotas imaginárias, amores reais. Ou não. Bem, na verdade eu não quis dizer nada com estes versos. Quis dizer ESTES versos, e espero uma interpretação individual. São alguns dos meus favoritos, por que tenho o clichê bobo de artista de não ter preferência pelo que escreve. Mesmogostando mais de um do que outro, todos são situacionais, e diziam, naquele minuto, o que a alma sentia. Boa leitura!


Monólogo para Fábio

Amo-te! Como o vinho e como a noite,
mas amo ainda o que me traz a companhia,
desta dama. A tua face que esvazia
o que me faz pedir desculpas. Ou acoite!

Amo-te! Como o jogador deseja a sorte
mas amo ainda o que me lembro. Imperfeito,
um outro homem. Que não sabe o que tem feito
à meu silêncio. Procurar-te como a morte!

Amo-te! Como um amigo à amizade
mas amo ainda quem lhe é de confiança.
Ser pecado, ver o medo que descansa
em teus olhos. Poderia ser verdade?

Amo-te! Como a vida que recuso, como a dor!
mas amo ainda o quer me resta de passado.
Ter o ontem, não você, apaixonado;
pode ser que eu sinta pena. Não amor!

12/02/2004 – 17:00hs.



Monólogo para Gabriela

Ah! Corpo banhado do mesmo desejo,
Co’ a busca do certo que foi proibido,
O gozo de medo, o gosto do beijo,
nos olhos que vejo,
e disfarçam a procura
seria a libido, capricho ou loucura
do nunca sentido?

Por quem estas curvas se ajeitam sorrindo?
A dor que um suspiro em meus lábios tremeu,
és cisma, mas cisma me deixa fingindo,
o prazer sem prazer esvaindo
o abraço mordaz de quem mente
ao pecado surgindo-me ardente
em teu púbis diante do meu.

Adormeça em meu peito, quieto e tristonho,
- não sou amizade com tantos ardis!
E ao que aconteça, então, lhe proponho,
Viver-me real. Não quero ser sonho!
Sexo, se puder, ainda amor,
Frio, se preferir, calor,
mas não a causa do que ris!

13/02/2004 – 12:00hs.



Monólogo para Clóvis

Pausa. Já não sei por onde inicio.
De tanto propor tais respostas vazias
eu desacredito em quaisquer teorias
que não se confirmem em estado de cio.

Meu sexo rege o restante do corpo,
a língua procura o sabor, não o verbo,
sou eu e me falto, e se me exarcebo,
é falsa alegria em estar descomposto.

Queria um diálogo, e não ser platéia,
do circo de feras que tanto me assusta,
tornar-me o michê, nesta vida de puta,
do preço que cobram, da noite de estréia!

Chorar sem poder retocar a pintura,
trajar meus defeitos sem cara de luto,
o tempo arbitrário, mostrando-se curto
n pulso – não pulsa! – e seria loucura?

Pausa. E agora, em sei o que faço.
De tanto mudar, não sou mais diferente,
Mas que mal em ser, dentre toda esta gente
apenas mais um, e não o palhaço?

24/10/2003


Monólogo para Marcos

Trancado em mim, à sua volta eu absorvo
o teu suor, o cheiro virgem do teu sexo,
e sou detrás de rude porta, teu reflexo,
a presa móvel rumo à boca de outro corvo!

Assisto ao corpo que revela em suas curvas
a nobre forma de um garoto. Não um homem!
degusto a carne mesmo não havendo fome
ou sede. Nado nestas águas ‘inda turvas.

Acuso a tara como mea culpa – minha!
Você não vê que teu silencio me navalha?
O absurdo de ter tudo envaidecido...

Despir-se em pêlo frente ao rosto que caminha,
os lhos não te buscariam na toalha
se não causasses danos à minha libido!


19/10/2003 - 14:00hs.



Monólogo para Érico

Se por entender ser eterno o minuto
eu desmonto este peito que a outra pertence,
tão velho este amor que o novo se vence;
a dama é passado, e enterro-lhe. Luto

por não me querer da maneira que sinto
teu lábio a tocar o meu corpo eriçado,
tropeço nas frases, será mesmo errado
dizer a verdade que corta-me. Minto!

Não sou essa farsa que agora se cria
apenas por ver-te aguçar meu pecado,
preciso-te hoje, p’ra ser do meu lado
a luz que me nego ao nascer d’outro dia.

Talvez seja o espelho sorrindo de volta,
a nudez eu descanso aguardando o começo,
a amar-te, sabendo quão caro é o preço
de ver segurança na mão que se solta

em queda, por livre, e livrar-se da dor,
o pesar da partida de volta p’ra casa,
um homem retorna ao seu vôo sem asa
e propõe transformar isto tudo em amor.

14/09/2006 – 19:10hs.



Monólogo para João Paulo

Sacro a vontade de ter em meus braços,
a ríspida derme despida de pêlos,
és sexo onde a vontade é de sê-lo,
perfeito onde o corpo só quer ser pedaço.

Enxergo-te fundo, na busca do incerto.
- não sou o que digo, nem peço que sejas!
Propor outro assunto, regado à cerveja,
É nobre desculpa de tê-lo por perto.

Será a vontade só minha premissa?
Ou sabes que o medo que tens me atiça
a perder o controle? Que nunca foi nosso.

Contenta-me a dúvida, não a resposta!
Eu sou o que tens, mas não sei do que gosta,
pra eu te fazer cada coisa que posso.
27/04/2003 – 21:00hs



Monólogo para Guilherme

Quem és? Senão quem eu culpo ser causa
do fim. Fui acaso, não quis o destino,
viola nos braços e eu, não afino,
sou blues ao que meu coração finge valsa.

Quem és? Não podias ser outro com outro?
Negar o encanto que a boca impingia?
Bastar-lhe a noite, se meu era o dia,
um cais, sem saber que eu também era porto!

Então, onde esteves enquanto eu chorava?
Sozinho, aguardando o final da semana,
Avulso a qualquer coisa. Foi desatino?

No tempo, os minutos, e eu não contava
que fosse improviso a quem sei, não me ama!
- o que tu fizestes a mim, meu menino?

13/04/2004 – 22:00hs.





Monólogo ao romance que finda

Para Gabriela

A porta se fecha, detrás do meu rosto,
te aguardo em silêncio, não queres meus braços?
Se não há amor, contentar-me ao abraço,
teu cheiro em meu corpo sentindo seu gosto!

E leve-me antes que eu seja lembrança.
Um peito não muda em tão pouco tempo!
Se a brisa buscar-lhe, procure no vento,
meu riso em canção te propondo uma dança.


Fui eu o culpado de dar-me de graça?
Um tento! Este jogo me fez meretriz
Cobrando sem troco o que não tinha preço.

Num dia, ventura, no outro, desgraça?
Que mal ao tentar pra não ser infeliz
ao viver a teu lado, uma vida ao avesso!

15/04/2004 – 16:30hs.



Monólogo para um nômade

Rumo a São João del Rey

- Sigo sozinho! Pé ante pé, desconsolado.
Minha casa nas costas pesando-me os ombros,
dos sonhos que tive, restaram-me escombros
dos que não sonhei, os perdi, acordado.

Estrada a estrada, a poeira nos dedos,
pedindo carona no canto do asfalto,
o abismo nos olhos, por vezes me falto
buscando outro mundo detrás de meus medos.

No rádio, o dial a tocar sempre o mesmo.
Andar sem destino, apoiar-se no esmo
que causa o deslize de estar nessa, só!

Na busca do certo que não me acompanha
Transpondo o perigo, plantando montanhas.
E vendo o amor transformar-se em dó!

26/04/2004 – 18:00hs.







Monólogo de sobrevida

Deito! E repouso sobre o peito que não bate
o punho em riste, o velho cheiro de formol,
despindo a noite mesmo a vida sendo sol,
meu fim de tudo não é nada, é fim e tarde!

Fecho a pupila e me recosto – inquieto!
Apóia a alça outro choro, sempre falso,
nos pés o mundo, na maldade que descalço
até que seja o meu desejo de ser feto.

Por que não há canção festiva em meu cortejo?
Se já sabiam ser vontade, o meu ensejo
de, ao fim, ver melodia, não lamento.

Trocar a lágrima, o remorso, por um copo
cheio. A embriaguez por diversão – eu topo
ser lembrança em meu abrigo de cimento.

12/06/2004 – 12:00hs.


Monologo ao avesso

Agora é festa, e não vou pôr cara de luto,
se não se empresta a fantasia desbotada,
a alma em paz criando teu cinema mudo,
e em cartaz um novo nome pra meu nada.

O picadeiro feito fosso nesta vida,
é Carnaval, e eu, de fora, a avenida.
lo circo nostro se confunde com a folia,
e só saudade passa a ser o que havia.

A noite nua se pegando. O riso máculo.
O que era chance a parecer um espetáculo,
e terminando onde começa um novo dia.

A palma, o rosto, o gosto do próprio veneno,
o peito triste em não querer sentir pequeno
o que, há pouco, parecia nostalgia.

15/03/2004 17:20hs.


Monólogo de um suicida

Passo a corda por meu pescoço
e pulo! Entope-me a aorta, sou forte!
A cara de frente com a cara da morte
Os pés arrastando no fundo do poço.

Pego o estilete afiado - meu pulso
Comprime as artérias drenando meu sangue;
aguardo que o sono – desmaio? – estanque
meu resto de vida num sofrer avulso!

Disparo o revólver na mente confusa
Miolos no piso sujando o carpete,
suspense idiota, novela das sete,
seis balas no cano da roleta-russa!

Ou vivo e a vida matando-me aos poucos,
sorrindo entre dentes de minha inconstância,
tão perto e tão longe de nossa distancia
que faz fenecer este vil homem louco!

08/03/2004 – 15:00hs.


Monólogo de solidão

Recorro às palavras tão sempre que falta,
ser só e ser livre, num quarto fechado.
A vida em sépia no porta retrato,
um palco vazio, sem luz ou ribalta.

Recorro à canção, na qual nunca me basta
cantar meu avesso ao avesso do mundo
que gira e não cessa meu triste e rotundo
remorso. O fim de uma vida nefasta?

Recorro ao sorriso que cansa-me a língua
e não deixa seguir este choro que crio
por que queres chuva, quando sou estio?
O sonho que morre, a lua que mingua.

Recorro à bebida, que desce a laringe,
rasgando-me o medo que vem cabisbaixo,
às vezes me perco, por outras me acho
na lógica triste do que você finge.

10/03/2004 – 02:00hs.


Monologo de despedida

Despeço-me da vida. Como um alcoólatra
deixa o copo na mesa; e procura ajuda,
o tempo de bebida, este, nunca muda,
as mãos seduzem os olhos de um ex podólatra.

Despeço sem um ciao. E não lhe pergunto
A causa de sentir a vida envilecendo
um sonho. Ser poeta, enfim, estar sofrendo
a ânsia de estar só mesmo vivendo junto.

- Adeus! Não vou ficar se ‘inda não consigo
Agir. Fazer aquilo que você sugere:
tornar razão a parte que não foi vivida!

E choro. Há tantos contras no conselho amigo.
Sangrar com a mesma faca que você se fere,
brindar no mesmo copo com outra bebida.

02/11/2003 - 19:00hs.


Monólogo de arrependimento

Depois de quase vinte e duas primaveras,
fechei o cerco à minha volta, descontente,
é só tristeza que me tomas facilmente,
as minhas forças? São desculpas e quimeras!

Depois de quase ter deposto em meu jazigo,
as mesmas cinzas que um dia me assombraram,
haviam medos, hoje já desmoronaram
e eu sou luto, sou o choro de um amigo!

Depois de quase outro porre sem sentido
A busca íntima, um desejo proibido.
Cansei de tudo. Vai haver um novo dia?

Se sou pecado, posso apenas ter tentado
e ter cedido ao que me foi, pois, recusado?
Ou não errei por não saber o que fazia?

14/06/2004 – 13:50hs.










Monólogo para um desconhecido

A noite tão rubra findando. Um verme
em meu corpo. Roendo o que era euforia,
desprezo onde há pouco habitava alegria
de ter em meus lábios teu nome: Guilherme?

Num trago, a malicia à procura de um beijo,
de sexo! Pêlos e pele, excitados,
bom gosto ou eterno prazer pelo errado,
nos olhos a busca do que ‘inda desejo!

- Te amo! E a quem também for companhia,
a mente confusa mostrando carência,
por dentro. Vontade e vontade, não drama!

Do peito, o aperto, de ver outro dia
sem ver-te! Ser meu, nesta quase demência
de tê-lo aqui perto em meu canto de cama.

10/08/2004 – 02:00hs.


Monólogo para Felipe

Poeta! Não me cante sobre o corpo falecido!
Nem me corte a mais sonora melodia!
Seja em mim, o que por nos eu não seria,
Corpo em corpo, n’outro porto adormecido.

Também treme o coração que te acompanha?
Não és lira em minhas mãos, tu és pecado!
Ser um rio em seus janeiros – Corcovado!
Ou a face, que em disfarce, tanto arranha.

Não só tolos sofrem neste paraíso,
nem só vinho satisfaz meu paladar,
ou só damas compartilham meu desejo.

És o mal! Sei, no entanto, que preciso,
O copo cheio ou tais motivos p’ra brindar
e por que não, a indiferença do teu beijo?

06/11/2003 – 21:00hs.









Monólogo para Rafael

Falo! A boca ou o prazer direcionado
ao centro. Do corpo, universo – o meu umbigo!
A mão no púbis descobrindo teu abrigo
No pecador desejo nunca desejado.

Sinto o tato ressoprando a vil fumaça
ao gozar calado. À cama, o findo leite,
te propor o sono, ou outro gole. Aceite
tudo o que procuro e você disfarça.

Arrancar-lhe a roupa e te despir do medo,
seduzir teu sexo, incitar o meu
a praticar a única vontade omissa.

Ver a cama posta, acordando cedo,
encontrar, portanto, o que nunca perdeu,
e ser neste jazigo, uma fútil premissa!

08/04/2004 – 21:40hs.


Monólogo para Helena

Faço o mundo em minha boca, e não reclamo,
abro a vida em meus enganos, não sonetos,
vida nova, nossa bossa e seus defeitos,
desafino quem eu tenho, não quem amo.

Se não sou parte daquilo que invento,
causa nobre é transgredir – a novidade!
Outro porto, outro corpo, outra cidade,
ter a pausa como único momento.

Caiba aqui, entre meus pêlos, fino tato.
Nu. As roupas despojadas na poltrona
e o calor de tuas mãos – entusiasmo!

Sou a pressa nestas noites de asfalto,
ou o medo, que sem meios, me abandona,
e tempo aquém do necessário pr’rum orgasmo!

06/08/2003 – 09:00hs.









Monólogo para David

Tentar dizer o que o corpo se recusa.
- O medo! Sempre o mesmo arroto atravessado,
às pressas, sorte de quem vive magoado
e não revela o que o peito mais acusa.

Tardar o frio como único orgasmo,
apodrecer por não tentar um outro sexo,
o que me inspira, pois senão, haver anexo
à sua escolha, o meu desejo ainda espasmo?

Ater-se aos olhos que deságuam ‘inda fundo,
o desalento, o desencanto ou suicídio,
correntes, chaves – ‘cá se encontram num presídio
o meu prazer e a decência do teu mundo.

E vão dizer, como quem nunca amou o erro:
- fiz eu, da sorte, o meu mais bruto desafio.
Cortar-me os pulsos e causar-me arrepio
com teu corpo! Nesta cama, o desespero...

Amado homem! Sabes que é meu ponto fraco?
E não suporto a busca do que não possuo,
se ganho ou perco, desta vida, eu não recuo.
Tu és o vinho. O meu vinho. Eu sou Baco!

20/06/2003 – 22:00hs.


Monólogo para Thalita

Nem terás minha boca cuspindo
a poeira daquilo que guardo
e não sinto o segredo ser fardo
se escondo de te, mas não minto!

E procuro outra cara que caiba
o esqueleto de fúnebre rosto
da alma. És a farsa! Eu não gosto
que não transpareça, não saibas.

Regurgito meu acre veneno
e destilo o amargo detalhe
-se não queres saber quanto vale
porque ‘inda me sinto pequeno?

O abraço mordaz que me nega
ao que deito meu corpo cansado
é fingido. Ou me tomas ao lado
como causa daquilo que prega?

Ah! Qual semblante lhe engana?
Eu não posso mudar minha cara
por que há de sentir como rara
a razão que a razão não profana?

E então, se me aguarda o Inferno
deixa a vida viver teus escarros.
Sou feliz. bastam vinte cigarros
um conhaque, canção e inverno!


Monólogo para o amor que não diz o nome

Para Cristóvão

É a trágica Grécia medonha,
o que causa meu roto desprezo,
e por meses, o corpo que ensejo
tem na língua a mais fina peçonha.

Não sou nada diante dos meus,
p’ra enxergar-me com olhos de súplica,
fostes eu quem tratou-lhe por única
e agora arrependo – meu Deus!

Nesta corda que alcança o pescoço,
me enforcas. Com escárnio e tortura,
pensas que sou em todo, armadura?
-Não! Sou fraco, por ‘inda ser moço.

E na coxa de parto tão bruto,
nasço Baco. Embriago-me em vinho,
se não queres sair do caminho
logo digas, eu cá, não escuto!

Dama podre, você não me ama?
Então posso cair do rochedo?
Se não sinto-lhe entre meus dedos
hei de vê-la com outra na cama?

14/06/2003 – 19:30hs.


Monólogo de cólera

Embriago-me. Puto. Com minha má sorte,
uma merda de vida a escarnar a platéia,
que traga a fumaça, e entorpece a traquéia,
com o pútrido anseio de dar frente a morte.

Porque vida a mais se só me subtraio?
Provendo o veneno que escorre a entranha
na cama, uma dama, a agir, tal piranha
com a lâmina cega, na língua, eu ensaio

um dueto, que, sóbrio, se faz displicente
das vísceras, alma, a sentir que ausente
encontro-me órfão, em luto e grisalho.

A hóstia mais casta com vinho barata,
o gozo escorrendo sem ser penetrado,
meu peito que peca, ao querer ser caralho!


06/05/2005 – 01:50hs.


Monólogo para um quase 23

Por hora, eu me enxergo com a pena que levo
em perder mais um dia nu luto, perfeito,
se tudo que tento, observo já feito,
por que não findar esta vida que entrevo?

Por hora, eu me ponho na paz que rejeito
de ser, neste baile, o acaso que chora
e por entender que, aqui, não mais mora
a felicidade, eu me rasgo! E no peito

descansa a vontade de vê-la cuspir
sem causa ou repúdio, as verdades que crio
o fim de verão neste corpo, pois, frio,
congela esta alma, deixando-se ir

aonde me aponta a incerteza futura
porque ser do mundo nem sempre é ser parte,
de que vale amor sem que o músculo infarte
a ânsia de ter, pro teu mal, uma cura.

Por hora, eu me alegro, um minuto carente,
ainda a saber que saudade é bem pouco,
prefiro a tristeza, antes que fique louco
o absurdo do chumbo adentrar minha mente!

23/03/2005 – 21:00hs.


Monólogo para Caroline

Não me peças que lhe cante o que não vejo
se sois mais do que tu pensas que enxergo,
ao tentar-me, sinto a vida que te entrego
ser bem mias do que presente! Não desejo

um dia apenas, por melhor, ‘inda me usa
p’ra ser alvo dos enganos que a comete
outra vez o mesmo enredo se repete
não amor, por preferir ser mera musa

destes textos, que sozinho, eu reescrevo
sem saber se alguém irá, então, vivê-los
porque só, já não me basta entende-los,
sei que posso, mas também sei que não devo

cortejá-la com a inocência de um afeto
que o mundo obrigou ser teu amigo
mas se queres amizade, eu não consigo
ser tão pouco, quando posso ser completo.

24/03/2005 – 19:15hs.


Monólogo do dia anterior

Triste. A não caber no leito a cara de sono,
se dormir sozinho é não dormir direito,
o café sem doce e o cigarro têm feito
a melhor companhia neste fim de outono.

Não quero conselhos. Dê-me logo um barbante,
uma caixa vazia na noite tristonha,
se o sono é de porre, esta paz é maconha
ou causa de tanta cerveja e calmante?

E me iludo à espera da morte almejada
ao cuspir esta droga a descer na privada
o excesso do medo que não se alivia...

Desistir do rascunho e enxerga-se bem fundo
no canto do quarto, que aos prantos, me afundo
mas lua – e cheia – não é covardia?

24/03/2005 – 19:10hs


Monólogo de avareza

Cobrando-me à vista, o que a prazo, eu não tenho
por juros, entendo, o que é verdadeiro
no beco a esmola, e no mundo, o dinheiro
é o ganho que quero e, portanto, desdenho

essa arte – a cobiça – de ser milionário:
uma casa, dois carros, e tudo se vende,
ser livre nas asas que ao corpo me prende
por módico preço, um papel de otário!

Mais um! E apenas, por que participo
do lucro e da perda que a vida oferece?
E parcela o Inferno se for pela prece?

O caminho mais curto, e eu, me dissipo
de mim, fica o medo a criar maior drama.
Cansei de ter paz, eu preciso é de grana!

28/04/2005 – 14:00hs.



Monólogo para Rodrigo II

Um novo começo, em mim, regozija,
o olhar inquieto, com as mãos ao volante
a lembrança mais turva a fazer do instante
o passar apressado das horas. Dirija

esta vida com o tato que põe em meu sexo,
a boca, o sorriso de pura malícia,
o beijo que agride, e meus lábios vicia
no gosto que tens, a deixar-me perplexo!

A calma que surge mas não adormece,
sem antes fazer da vontade uma prece:
pedi-lo em defesa ao meu corpo que treme

em tocá-lo, outro mundo transpõe meu receio
e viver-lhe ao extremo, por não ver tal meio
senão o que finda com a boca que geme!


17/04/2005 – 20:00hs.


Monólogo de uma amor quase perdido

Será que transpareço a falsa calma que escondo
Ou simples, não engano, a quem me cerca, combalido?
Sentir findar na alma este desejo reprimido,
que grita como fosse a lua, cheia, já se pondo

no riso, que eu lembro, mas por pouco não revejo,
no corpo, que insinuo, ao ver na cama a tez macia,
na noite, que desliza em minha pele, e adormecia
a paz – tão provisória! – a me quietar com terno beijo!

Meu homem, és a culpa que se encerra em meu silêncio
ou tal mordaça, põe-te a evitar-me por receio?
Por que não vive a vida inteira, e faz de mim teu meio
a ser a parte outra que completa-te? Propenso

a reviver o antes como se fosse o futuro,
um livro aberto, às pressas, sem ninguém ter nunca lido,
pra cada amor que lembras, um, portanto, não vivido
reclama tua ausência, por amar a ti! Eu juro

não ser memória afresca onde posso ser presente,
enxerga-me além do que observa esta retina
que sabes que aprende, mas não vês que me refina
o amor que salta o peito, e que repousa em minha mente!

08/06/2005 – 21:20hs.



Monólogo para Thiago

A noite pedindo uma boca. O estranho
a tocar em meus lábios teus lábios de ira
aqui me ofereço, e prefere a mentira
de quem te merece? Não eu! Se não ganho

é por crer que meu corpo, no seu, é reflexo,
a pele a pedir o calor d’outro homem,
ao ver tua tara, o meu riso consome,
o que vai lhe dar quem só quer o teu sexo?

Nem sei como alguém pode ser tão nojento
que a língua que acoita sem ver que o momento
de ir é agora! Por que o martírio?

então relembrar, sendo só sofrimento
extraindo do corte o maior sangramento.
Preciso de colo e me dou ao exílio?

15/10/2004 – 05:20hs.

Meu cartão de visitas




Eu vou ser quarta-feira?

Então, me prepare uma longa avenida,
- aproxime-se logo do triste cordão,
passaram o trompete, trombone, o pistão,
não foi uma banda, foi quase uma vida.

E eu neste bloco sambando sozinho,
nos cacos de vidro de vinho e cerveja
e pinto meus olhos p’ra que ninguém veja
que ando por onde inexiste um caminho.

E quando te enxergo, meu baile tem fim
jogando os confetes cupidos na cara,
não é covardia entender como tara?
Palhaço sou eu! Não caçoes de mim!

E me escondo num mundo sem eira nem beiras,
Fizestes um circo onde a festa era minha
fugiu ao saber que meu bloco já vinha.
- se és Carnaval, eu vou ser quarta-feira?

13/10/2003 - 04:00hs.
Achei que esta seria melhor maneira de começar este blog. Com meu cartão de visitas, meu poema favorito.