Versos loucos de um poeta boêmio!

terça-feira, março 13, 2007

Bailes, carnavais, circo e outras folias



Assunto recorrente em vários poemas meus. Depois de um bom tempo sem postar, resolvi colocar alguns meio temáticos. Nunca soube o motivo deste meu interesse por lembranças de um tempo que não foi meu. Mas mesmo depois de quase um mês pós-folia, ainda vejo como atuais alguns poemas escritos há tanto tempo. Épocas diferentes, mas o assunto sempre foi razão pra esta minha tentativa de literatura. Tentativa sim, porque ainda não desvinculei nada do que escrevo como simples fonte de terapia. Aqueles minutos em que você não sabe o que dizer ou mesmo não tem outra maneira de se expor e prefere desnudar-se em algumas linhas que, por vezes, à quem se dirige, nunca vá lê-los. Mas nem sempre a intenção é esta. Já me questionei por que o mundo precisa de poesia. Ele não precisa. Mas será este motivo bom o suficiente pra não fazê-las?



Mundo circo

Fazer da dor um novo reinício,
e se o mundo
com todos seus truques baixos
tirar da cartola outro trunfo,
estaria você preparada
para mais um dos meus espetáculos?
Fazer do medo um novo desafio,
e se o mundo
com todo seu circo de feras
colocar na arena um novo leão,
estaria você arriscando
aquilo que eu não soube domar?
Fazer da procura um novo encontro,
e se o mundo
pendurar seus erros numa corda bamba
enquanto observo em aplausos,
estaria você caindo
de uma altura qualquer nos braços de ninguém?
Fazer de mim um novo você,
e se o mundo
com a célebre ironia de um palhaço
fizer do teu choro motivo de riso,
estaria você se divertindo
com a possibilidade sermos iguais?
28/05/2003 18:00hs.
A morte do palhaço
...findo o espetáculo. A lona atinge o solo,
quieto, sai o palhaço sem botas
com o cadarço dando voltas
em seu pescoço de guache.
- Pareceriam suspensórios?
Escorre pelo rosto. A lágrima tingida
entre o riso da platéia admirada
com o eixo do minúsculo carro
enferrujado. Os olhos distantes
do arlequim - meu Deus! Tire esta máscara
sem álcool. Senão me embriago?
Bêbado. E as cores multifacetadas
do seu martelo de borracha
manchando, vertigem - estrelas!
Em seu calçado sem bolas
a vida perdendo- se, oras!
Entre em seguida o trapézio!
Trocando os papéis com a verdade
"sou palhaço apenas no palco
ou quando me sujo de talco
para não ser reconhecido?"
Eis a arte imitando a vida de um tolo
e um tolo, dela, fazendo parte!
Pierrô! Já são cinzas nesta terça-feira
e meu Carnaval acabou sem confete,
sendo mágoa, a lâmina do canivete
encoraja-me. Calibro a garganta,
mas de quê adianta
a ressaca de um vício comum?
Findo o espetáculo. Sai o comboio
calado. O cadarço não vai ao embarque
- é o laço no estômago de prozac
do palhaço que nunca sorriu de verdade
e ia, tristonho, cidade a cidade,
em busca dos sonhos que a vida levou.
E o show sempre deve continuar, dizem...
por aqui eu desço. E triste fico.
Ainda que neste mundo circo
entrada gratuita, final previsível
eu mesmo não sei que papel escolher...
14/09/2003 02:00hs.
Epígrafe
A vida ao avesso, o jogo ao acaso,
acordar sozinho com medo do dia,
dormir trancado com medo da noite,
sentido inverso de monotonia,
outro dia, sempre o mesmo dia.
Madrugada, vinte cigarros,
por escolha de um novo rumo,
sem destino, sem estrada,
o último choro de desespero não cessa,
e aqui dentro, bem dentro,
a condição de que nada vai mudar...
A morte em desejo, o punho cicatrizando,
a diferença é o que me causa nojo,
queria eu mudar de cara todo dia?
queria eu ser o doce vício desta vida doce?
Ouvi seus passos atravessando a casa,
como quem corre e não alcança
o risco de estar tão perto, ao meu lado,
sem torcida, sem tristeza,
o último choro de desespero não cessa,
e aqui dentro, bem dentro,
a certeza dequea vida me mata aos poucos...
A sorte em seus dados, xeque-mate!
o fim do jogo e sou apenas platéia,
com meu rosto pintado em vermelho
como fosse a única alternativa,
do altodo picadeiro,
ver a queda como saída;
se recolher os cacos adiantasse
ainda saberíamos montar um novo coração?
De tanto imaginar a lógica
tornou-se absurdo argumentar minha loucura.
O último choro de desespero não cessa,
e aqui dentro, bem dentro,
sou atração principal do meu próprio circo...
18/04/2004 23:00hs.
O sorriso do palhaço que chora
Do céu a estrela mais bonita
sob a névoa turva, o esquecimento
datas, nomes, feriados,
a lembrança do ontem que não virou depois.
Sentado na calçada
a fina garoa dos invernos nebulosos,
em sépia, monocolores
numa vida de retrato, 3x4,
preto e branco e triste...
Do sonho a memória mais curta
sob o suor seco,
um rosto desfigurado
luz acesa adentrando a madrugada.
Medo do escuro, medo do claro!
Deitado na poltrona
descalço, nu, descoberto,
desprotegid numa vida de cinema,
pré-estréia, sala cheia...
Do amor a busca mais sincera
sob o céu o entardecer.
Murcha a pétala, outra flor dilacerada,
num empoeirado livro de companhia.
Suspenso na corda bamba
o pulo confiando na queda,
sem rede, sem rumo, sem nada.
numa vida de circo, sem platéia,
o eterno sorriso do palhaço que chora...
13/07/2004 15:00hs.
Palhaço
Incontáveis versos e um palhaço triste,
aliando só, este vazio e o nada,
para quem subia, fui perfeita escada.
para quem descia, fui apoio. Existe

pior drama quando mais ninguém enxerga
debaixo do guache, um riso desbotado?
ao fazer sorrir, e dentro, retalhado,
sigo o rumo que meu próprio rumo nega.

Comedir o riso ao parecer insano
e se despir diante do espelho humano
é fraquejar sabendo que o menor cansaço

não sensibiliza o que a platéia pensa
porque ao choro nunca coube recompensa
e sou no palco – e vida – o mesmo. Palhaço!
21/10/2005 – 16:30hs.
Monólogo para o palhaço de Fausto
"não me venham falar de Eternidade.
Se passo a ocupar-me com Posteridade,
quem virá divertir o mundo do presente?"
Fausto - Goethe
Falar-te-ia de prazeres se não fosse
ser prazer, esta quimera que se encerra,
há de ter maior beleza nesta terra
do que ser, no seu depois, lembrança doce?
Não ofendo a escrever mortal memória,
mesmo que seja vistosa a minha derme,
quem há de determinar que, hoje, o verme
não comece a me roer? Em maior glória
vivo eu, a resguardar o meu intuito
de ser, morto, o que em vida, foi fortuito
acompanhando-me, tão só, em meu recanto
enquanto durmo, a platéia se diverte
ao que enceno outra morte. Sou inerte
em não expor com gozo e fúria meu encanto?
20/06/2005 21:00hs.
Monólogo para Clóvis
Pausa. Já não sei por onde inicio.
De tanto propor tais respostas vazias
eu desacredito em quaisquer teorias
que não se confirmem em estado de cio.

Meu sexo rege o restante do corpo,
a língua procura o sabor, não o verbo,
sou eu e me falto, e se me exarcebo,
é falsa alegria em estar descomposto.

Queria um diálogo, e não ser platéia,
do circo de feras que tanto me assusta,
tornar-me o michê, nesta vida de puta,
do preço que cobram, da noite de estréia!

Chorar sem poder retocar a pintura,
trajar meus defeitos sem cara de luto,
o tempo arbitrário, mostrando-se curto
n pulso – não pulsa! – e seria loucura?

Pausa. E agora, em sei o que faço.
De tanto mudar, não sou mais diferente,
Mas que mal em ser, dentre toda esta gente
apenas mais um, e não o palhaço?
24/10/2003


Ensaio único do arlequim enamorado
Vês! Enquanto eu retiro apressado e sem jeito
Frente ao espelho trincado de mágoa
a maquilagem borrada do ultimo romance
que sem dar certo
que sem se dar conta,
acabou gotejando veneno
no canto dos lábios que não me beijaram
que não se cederam
ao falso encanto desta minha ingenuidade mesquinha,
essa divina comédia bizarra
sem graça
como uma piada precedendo o riso
como a dor antecedendo o corte,
a bola empoeirada na ponta do sapato
indicando o contrário
o caminho curto de uma semi breve vida
que se senta na praça e apenas observa
a lembrança que ficou impregnada de medo
infestada de nojo
na garrafa vazia que esqueceu de aliviar
a ansiedade noturna da primeira sexta-feira em casa,
o mesmo nome
rejeitando com a quietude dos tímidos
meu quase carinho
que já não pode mais tornar-se amor
porque pra fazer das cinzas um outro carnaval
este arlequim enamorado precisa de outro palhaço...

27/05/2005 – 21:45hs.

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2 Comments:

  • At 5:56 PM, Anonymous Anônimo said…

    oi meu lindo!
    demorei pra comentar esse, mas já li todos :D adoro esse motivo de carnaval e circo. posso dizer q esse estão nos melhores q vc fez, não sou a melhor pra dizer isso neh pq eu gosto de todos entãão.. estão nos preferidos estes:
    mundo circo, a morte do palhaço, epígrafe, palhaço, monologo para clovis e ensaio único do arlequim enamorado. ^^'
    beijo graande, te amo! saudades.
    vita.

     
  • At 6:04 PM, Blogger Thaís Cunha said…

    não pude deixar de seguir dicas literárias cibernéticas de flávia (já reparou como a internet anda exalando literatura por esses dias?)
    enfim, adorei.
    talvez descobrir que arlequins podem ser pierrots seja como descobrir que as mães não sabem de tudo.

     

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