Versos loucos de um poeta boêmio!

terça-feira, janeiro 16, 2007

Quem precisa de rimas?


Rimar não é tão fácil quanto parece. E como certa vez me disse um amigo, prende suas percepções um pouco, já que a lógica pode dar lugar à palavra. Ainda assim prefiro poemas métricos, mas acabo me reservando situações pra não obedecê-las... abaixo, alguns poemas assim... épocas diversas, mas basicamente no mesmo contexto dos demais...
Como um girassol neste chuvoso novembro

Ouço as palavras que saem silenciosas
sem o veneno da perda
ou a mágoa do arrependimento.
Caia em meu jardim
Na mais secreta e ruidosa manhã
enchendo de vida e de gozo
o desespero que grita pra ser ouvido.
Toque o céu ao adormecer
e sinta-se à vontade
caso queira receber de volta
o amor que a ninguém mais pertence.
Outro dia chega ao fim
e nesta solidão quase seminarista
eu atravesso a passos curtos
nossa lembrança de não ser somente um.
Fez-me falta cada dia – não nego!
Mas o hoje sempre foi pior
por ser presente o minuto
que louvo em meu verso sem rima.
E por isto abro a janela.
- Entre! E numa lágrima breve
de quem aguardou uma vida toda,
a recebo em meus braços
como um girassol neste chuvoso novembro.


25/11/2005 – 17:37hs.
*Girassol. A flor preferida de quem se destina esta ode. alguém sabe me dizer por que saudade aumenta nos dias chuvosos?*
16:32

Tudo cabe aqui dentro:
amor, receio, medo e carinho;
e agora que fazes parte
do sorriso que não quer mais sair deste rosto
de homem bobo, sem reação
diante o garoto
envergonhado, descobrindo-se
num mundo que o quer como causa
sem fazer perguntas
sem pedir respostas.
Teus lábios em minha boca
insinuando o novo com quem pede abrigo,
escolhendo entre todas as dúvidas, o talvez.
Por que causa-te espanto
enxergar felicidade
onde há pouco não havia um rumo,
onde há tanto faltava um caminho?
E agora
por não respirar sem tua ajuda
por não sentir sem tua presença
quer você dividindo
pra dois – nós dois! – e mais ninguém
o amor que nasceu arbitrário
mas só pela fato de acontecer
deixa em paz este coração que se abre
e exige que você fique
.

14/09/2006 – 19:30hs.
*Irônico dizer que o maor naceu arbitrário. Nunca há arbitrariedade em sentimento algum, seja ele bom ou não. Mesmo quando se dispensa a previsão, alguns romances já nascem pontuados pelo final, disso eu sei.*
Ensaio único do arlequim enamorado

Vês! Enquanto eu retiro apressado e sem jeito
Frente ao espelho trincado de mágoa
a maquilagem borrada do ultimo romance
que sem dar certo
que sem se dar conta,
acabou gotejando veneno
no canto dos lábios que não me beijaram
que não se cederam
ao falso encanto desta minha ingenuidade mesquinha,
essa divina comédia bizarra
sem graça
como uma piada precedendo o riso
como a dor antecedendo o corte,
a bola empoeirada na ponta do sapato
indicando o contrário
o caminho curto de uma semi breve vida
que se senta na praça e apenas observa
a lembrança que ficou impregnada de medo
infestada de nojo
na garrafa vazia que esqueceu de aliviar
a ansiedade noturna da primeira sexta-feira em casa,
o mesmo nome
rejeitando com a quietude dos tímidos
meu quase carinho
que já não pode mais tornar-se amor
porque pra fazer das cinzas um outro carnaval
este arlequim enamorado precisa de outro palhaço...

27/05/2005 – 21:45hs.
*Sempre me questionei por que neste enredo de folia, sempre quem nunca se deu mal foi a colombina. Aqui há uma tentativa de mudança, onde o pierrot e o arlequim resolvem o que vai ser feito sem depender dela. Não há assunto delicado, é folia, e não é preciso explicar tais coisas.*
Ou não?

Ou o medo que nos mira,
ou a ira que nos toma?
Ou o susto que nos guia
ou a bruma que nos cega?
Ou o antes que não cessa
ou a pressa que nos muda?
Ou o erro que me ensina
ou a sina que o comete?
Ou a dor que nos escolhe
ou a morte que não chega?
Ou a tarde que não finda
ou o não que me excita?
Ou o fim que se aproxima
ou a rima que se perde?
Ou a raiva que nos une
ou a vida que se entreva?

10/06/2006 – 20:00hs.
* Um mezzo Caetano Veloso em não dizer muita coisa. Mas o título sugere a segunda possibilidade em tudo.*
O minuto que precede o fim

Contemplo o soturno
por um meio riso de euforia e saudade.
A completa tristeza
do minuto que precede o fim
na carta de despedida absoluta.
Lou Reed no rádio
adentrando a madrugada
seringa e agulha no antebraço
e a garganta seca de nicotina,
um orgasmo fétido
- autofelação promíscua?
das páginas coladas de gozo
e perversão adolescente
numa propaganda de lingerie.
Contemplo a nudez
eriçando de frio o púbis depilado
e limpo.
A completa orgia
do minuto que precede o fim
na tântrica posição de repouso.
Supergrass na mente
comedindo o paladar
a se desprover da língua
ao que deseja enfiá-la
salivante
no corpo usado da mais velha puta
maquilagem e suor
na esquina que invejo.
Contemplo a necrofilia
com o tesão caricato
e impotente.
A completa vontade
de mutilar-me à gilete
e deixar de ser um pouco eu.
Coca-cola no copo
o bar aguardando o freguês
no balcão impregnado de gordura
o cadáver que não paga a bebida
mas deseja a garrafa
- mais um hímen dilacerado?
perfurando o clitóris, sem nojo
ou medo do imperdoável desejo
de voltar à vida novamente...

04/03/2005 – 14:00hs.
* Todo mundo se lembra dos instantes finais, do minuto que fica guardado antes da tragédia. Ou comédia. Vida grega de complicações, mas nada é bizarro se visto pela ótica do realismo. fantástico, que seja!*
Pós boemia (o dia seguinte)

Acordou com a pior cara de domingo
a chuva regando no varal
as roupas com cheiro de mofo.
Calçou as sandálias
- o par trocado de havaianas imundas
o grampo de cabelo
na ponta azul do chinelo.
Bocejou um arroto de vinho
a parede manchada, doze anos
de bolor e reboco.
Acordou com o supercílio rasgado
talvez a queda do degrau
um a um na descida íngrime
do boteco pré-datado de embriaguez.
Lavou o rosto na água morna
o ano respingando imundície
no esgoto entupido do banheiro,
a escova de cerdas sedentas
da putrefação da gengiva
cepacol e aspirina
matando germes inofensivos.
A lâmina com pêlos de outro
acumulando resquício hepático
de um fígado paterno
- com esta eu não me corto!
Acordou com o pijama molhado
polução noturna
num sonho incestuoso
de transar a própria mãe
ejaculando fora
por medo de um descendente disforme.
Tomou o café amargo
a mosca engasgando a campainha
depois de procurar
na borda trincada do copo de vidro
o resto de morte
de um inseto menor.
Acordou acariciando o membro rijo
o tesão involuntário
sem preservativo
pecando só na primeira hora do dia.

21/04/2005 – 07:00hs.
* Acordando sem ressaca, uma vez que boêmios não possuem isto. Coisa de alcoólatra tal verbete. "Roda viva" por Ney Matogrosso dando o tom do domingo...*
Negação

A negação absoluta da existência divina
enquanto segue o cortejo
fúnebre e carnavalesco
de um pontífice bem vestido em seda e ouro
pela esmola indulgente
do homem sem casa
que sabe ser mais barato
um terreno de quinta categoria no céu
ao sonho de uma vida quase real...
A negação absoluta da presença paterna
enquanto segue a labuta
mal remunerada e imunda
de um patriarca pseudoreligioso
onde o gozo e luxúria
foram negociados a escambo
pelo pecado que se comete
ao crer no que se vê a olho nu
porque a rádio transmite gol a gol
a mesma partida da tevê preto e branco...
A negação absoluta da existência própria
enquanto segue o desespero
falsa calma e passividade
de um homem que acredita ser
que de melhor ele conhece
e portanto, senão outra vontade
passa-lhe a não nomeá-la morte...

05/04/2005 – 21:00hs.
* A melhor maneira de acreditar em algo é antes negá-lo absurdamente. E eis minha fase de transição.*
Voyer

Excita-me o corpo desabotoado
mangas dobradas
exalando pecado
no suor que desce pelo peito
sem ritmo
e adentra o mundo
que minha boca cobiça saber o gosto,
sentir o amargo da língua
deslizar a pele ofegante
e entender a causa
da eterna ameaça de querer o impossível
o inesperado
o impensável prazer pela culpa.
Excita-me o corpo despenteado
riso largo, orelha a orelha
transpirando pecado
no quase amor que não se cumpre
sem beijo
e adentra o zíper
que minhas mãos desejam possuir,
sentir o doce do sexo
eriçar os pêlos inquietos
e entender a causa
da constante ameaça de desistir do possível
o esperado
o fato antecedendo o depois...

21/03/2005 – 03:00hs.
*Quem nunca apenas observou o deslizar calmo e sexy de alguém pela pista de dança? Poema se tornando vontade. Em Juiz de Fora.*


Estar só
ficar só
completamente
absurdamente
fantasiosamente
espantosamente só
sozinho, sem ninguém
ser ninguém
e se ninguém
me olha só e me resgata
eu desabo e choro.
E ninguém me ouve
ninguém me escuta
ninguém me conforta
por que minha solidão reluta
em ser só
infimamente
atrevidamente
displicentemente
covardemente só
sozinho, abandonado, sem ninguém
ser ninguém
e se ninguém
me olha só e me resgata
eu desabo e choro.
E ninguém me diz
ninguém me tira
ninguém me consola
a vida que foi a mentira
mais triste que vivi
szinho
por que minha solidão
de tanto ser companhia
cansou de mim também
e foi viver sozinha...


19/11/2004 – 19:00hs.

*Estar sozinho sempre só fez sentido quando por opção. Casos contrários é loucura.*

pra sempre

Eu desencarno de vez desta alma disforme.
Num aprendizado tolo
do fim insone de madrugada
acomodando no papel a vontade de ser junto
o que não cabe mais em um.
Alicio, eu sei,
meio a contragosto
o absurdo de não causar
uma terceira má-impressão.
- E não consigo!
Absorvo-me em choro
contido – tenha certeza! –
mas que não deixa de ser pranto,
ao que apodrece no peito
esse músculo taquicárdico, sensível
que só bate por que cansou de apanhar.
Mas nesta hora mais escura
acampando em volta num vago sentido de razão,
eu absolvo cada pecado
por não acontecer ritmicamente
ao som da melodia que toca desafinada
em seus lábios de cera, em meus olhos de chumbo
que p’ra esquecer que um dia amou
agarra-se novamente onde, por pouco,
não foi, em definitivo,
pra sempre.

27/05/2005 – 1:53hs.

* Tentar eternizar os minutos fugazes. Quanta ingenuidade meu Deus!*


05:54

Começou como a piada mal contada
o sorriso de disfarce
tentando ser o que o coração não sente.
E neste fim de noite
a lua detrás do muro
e o beijo de bom dia
pela mentira pronta a ser fato
no minuto que rabisca o desejo
de ser outro
de ter outro
neste canto vazio de cama
que sentiu a saudade
na falta do controle
da situação absurda
do dia que não quis terminar.
Bêbado, na vontade de não querer o óbvio
a quase verdade irrealizada
ao corpo que incita o pecado
mais casto
mas casto
é o enredo que encerra na manhã
que virou poema
por não se deixar acontecer...

11/04/2005

* Horas e datas. Fim de noite, madrugadam início do dia. E não havia ninguém pra ouvir.*

3 Comments:

  • At 10:52 PM, Anonymous Anônimo said…

    ah, meu poeta preferido!
    :] poemas de hoje preferidos?
    hum.. dificil dizer!vão alguns:
    05:54,só, voyer, o minuto que precede o fim... :]
    um beijo!

    :*.

     
  • At 9:32 PM, Anonymous Anônimo said…

    :*

     
  • At 8:49 PM, Anonymous Anônimo said…

    Ensaio único do arlequim enamorado,pra sempre, Ensaio único do arlequim enamorado... ah tah bom! todos eles xD

     

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