Versos loucos de um poeta boêmio!

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Monólogos


Os monólogos abaixo não seguem ordem alguma. Apenas foram listados juntos por um critério pessoal. Alguns são tentativas de dizer a alguém, alguns de reconquista, perda, alguns são coisas que gostaria de ter ouvido, coisas que precisava ter dito. Ou é apenas a minha visão de uma situação, que me deixando excludente dela, eu daria a sugestão ( não pedida), de outrem a outrem. Nomes reais, nomes fictícios, homens que podem ser mulheres, garotas imaginárias, amores reais. Ou não. Bem, na verdade eu não quis dizer nada com estes versos. Quis dizer ESTES versos, e espero uma interpretação individual. São alguns dos meus favoritos, por que tenho o clichê bobo de artista de não ter preferência pelo que escreve. Mesmogostando mais de um do que outro, todos são situacionais, e diziam, naquele minuto, o que a alma sentia. Boa leitura!


Monólogo para Fábio

Amo-te! Como o vinho e como a noite,
mas amo ainda o que me traz a companhia,
desta dama. A tua face que esvazia
o que me faz pedir desculpas. Ou acoite!

Amo-te! Como o jogador deseja a sorte
mas amo ainda o que me lembro. Imperfeito,
um outro homem. Que não sabe o que tem feito
à meu silêncio. Procurar-te como a morte!

Amo-te! Como um amigo à amizade
mas amo ainda quem lhe é de confiança.
Ser pecado, ver o medo que descansa
em teus olhos. Poderia ser verdade?

Amo-te! Como a vida que recuso, como a dor!
mas amo ainda o quer me resta de passado.
Ter o ontem, não você, apaixonado;
pode ser que eu sinta pena. Não amor!

12/02/2004 – 17:00hs.



Monólogo para Gabriela

Ah! Corpo banhado do mesmo desejo,
Co’ a busca do certo que foi proibido,
O gozo de medo, o gosto do beijo,
nos olhos que vejo,
e disfarçam a procura
seria a libido, capricho ou loucura
do nunca sentido?

Por quem estas curvas se ajeitam sorrindo?
A dor que um suspiro em meus lábios tremeu,
és cisma, mas cisma me deixa fingindo,
o prazer sem prazer esvaindo
o abraço mordaz de quem mente
ao pecado surgindo-me ardente
em teu púbis diante do meu.

Adormeça em meu peito, quieto e tristonho,
- não sou amizade com tantos ardis!
E ao que aconteça, então, lhe proponho,
Viver-me real. Não quero ser sonho!
Sexo, se puder, ainda amor,
Frio, se preferir, calor,
mas não a causa do que ris!

13/02/2004 – 12:00hs.



Monólogo para Clóvis

Pausa. Já não sei por onde inicio.
De tanto propor tais respostas vazias
eu desacredito em quaisquer teorias
que não se confirmem em estado de cio.

Meu sexo rege o restante do corpo,
a língua procura o sabor, não o verbo,
sou eu e me falto, e se me exarcebo,
é falsa alegria em estar descomposto.

Queria um diálogo, e não ser platéia,
do circo de feras que tanto me assusta,
tornar-me o michê, nesta vida de puta,
do preço que cobram, da noite de estréia!

Chorar sem poder retocar a pintura,
trajar meus defeitos sem cara de luto,
o tempo arbitrário, mostrando-se curto
n pulso – não pulsa! – e seria loucura?

Pausa. E agora, em sei o que faço.
De tanto mudar, não sou mais diferente,
Mas que mal em ser, dentre toda esta gente
apenas mais um, e não o palhaço?

24/10/2003


Monólogo para Marcos

Trancado em mim, à sua volta eu absorvo
o teu suor, o cheiro virgem do teu sexo,
e sou detrás de rude porta, teu reflexo,
a presa móvel rumo à boca de outro corvo!

Assisto ao corpo que revela em suas curvas
a nobre forma de um garoto. Não um homem!
degusto a carne mesmo não havendo fome
ou sede. Nado nestas águas ‘inda turvas.

Acuso a tara como mea culpa – minha!
Você não vê que teu silencio me navalha?
O absurdo de ter tudo envaidecido...

Despir-se em pêlo frente ao rosto que caminha,
os lhos não te buscariam na toalha
se não causasses danos à minha libido!


19/10/2003 - 14:00hs.



Monólogo para Érico

Se por entender ser eterno o minuto
eu desmonto este peito que a outra pertence,
tão velho este amor que o novo se vence;
a dama é passado, e enterro-lhe. Luto

por não me querer da maneira que sinto
teu lábio a tocar o meu corpo eriçado,
tropeço nas frases, será mesmo errado
dizer a verdade que corta-me. Minto!

Não sou essa farsa que agora se cria
apenas por ver-te aguçar meu pecado,
preciso-te hoje, p’ra ser do meu lado
a luz que me nego ao nascer d’outro dia.

Talvez seja o espelho sorrindo de volta,
a nudez eu descanso aguardando o começo,
a amar-te, sabendo quão caro é o preço
de ver segurança na mão que se solta

em queda, por livre, e livrar-se da dor,
o pesar da partida de volta p’ra casa,
um homem retorna ao seu vôo sem asa
e propõe transformar isto tudo em amor.

14/09/2006 – 19:10hs.



Monólogo para João Paulo

Sacro a vontade de ter em meus braços,
a ríspida derme despida de pêlos,
és sexo onde a vontade é de sê-lo,
perfeito onde o corpo só quer ser pedaço.

Enxergo-te fundo, na busca do incerto.
- não sou o que digo, nem peço que sejas!
Propor outro assunto, regado à cerveja,
É nobre desculpa de tê-lo por perto.

Será a vontade só minha premissa?
Ou sabes que o medo que tens me atiça
a perder o controle? Que nunca foi nosso.

Contenta-me a dúvida, não a resposta!
Eu sou o que tens, mas não sei do que gosta,
pra eu te fazer cada coisa que posso.
27/04/2003 – 21:00hs



Monólogo para Guilherme

Quem és? Senão quem eu culpo ser causa
do fim. Fui acaso, não quis o destino,
viola nos braços e eu, não afino,
sou blues ao que meu coração finge valsa.

Quem és? Não podias ser outro com outro?
Negar o encanto que a boca impingia?
Bastar-lhe a noite, se meu era o dia,
um cais, sem saber que eu também era porto!

Então, onde esteves enquanto eu chorava?
Sozinho, aguardando o final da semana,
Avulso a qualquer coisa. Foi desatino?

No tempo, os minutos, e eu não contava
que fosse improviso a quem sei, não me ama!
- o que tu fizestes a mim, meu menino?

13/04/2004 – 22:00hs.





Monólogo ao romance que finda

Para Gabriela

A porta se fecha, detrás do meu rosto,
te aguardo em silêncio, não queres meus braços?
Se não há amor, contentar-me ao abraço,
teu cheiro em meu corpo sentindo seu gosto!

E leve-me antes que eu seja lembrança.
Um peito não muda em tão pouco tempo!
Se a brisa buscar-lhe, procure no vento,
meu riso em canção te propondo uma dança.


Fui eu o culpado de dar-me de graça?
Um tento! Este jogo me fez meretriz
Cobrando sem troco o que não tinha preço.

Num dia, ventura, no outro, desgraça?
Que mal ao tentar pra não ser infeliz
ao viver a teu lado, uma vida ao avesso!

15/04/2004 – 16:30hs.



Monólogo para um nômade

Rumo a São João del Rey

- Sigo sozinho! Pé ante pé, desconsolado.
Minha casa nas costas pesando-me os ombros,
dos sonhos que tive, restaram-me escombros
dos que não sonhei, os perdi, acordado.

Estrada a estrada, a poeira nos dedos,
pedindo carona no canto do asfalto,
o abismo nos olhos, por vezes me falto
buscando outro mundo detrás de meus medos.

No rádio, o dial a tocar sempre o mesmo.
Andar sem destino, apoiar-se no esmo
que causa o deslize de estar nessa, só!

Na busca do certo que não me acompanha
Transpondo o perigo, plantando montanhas.
E vendo o amor transformar-se em dó!

26/04/2004 – 18:00hs.







Monólogo de sobrevida

Deito! E repouso sobre o peito que não bate
o punho em riste, o velho cheiro de formol,
despindo a noite mesmo a vida sendo sol,
meu fim de tudo não é nada, é fim e tarde!

Fecho a pupila e me recosto – inquieto!
Apóia a alça outro choro, sempre falso,
nos pés o mundo, na maldade que descalço
até que seja o meu desejo de ser feto.

Por que não há canção festiva em meu cortejo?
Se já sabiam ser vontade, o meu ensejo
de, ao fim, ver melodia, não lamento.

Trocar a lágrima, o remorso, por um copo
cheio. A embriaguez por diversão – eu topo
ser lembrança em meu abrigo de cimento.

12/06/2004 – 12:00hs.


Monologo ao avesso

Agora é festa, e não vou pôr cara de luto,
se não se empresta a fantasia desbotada,
a alma em paz criando teu cinema mudo,
e em cartaz um novo nome pra meu nada.

O picadeiro feito fosso nesta vida,
é Carnaval, e eu, de fora, a avenida.
lo circo nostro se confunde com a folia,
e só saudade passa a ser o que havia.

A noite nua se pegando. O riso máculo.
O que era chance a parecer um espetáculo,
e terminando onde começa um novo dia.

A palma, o rosto, o gosto do próprio veneno,
o peito triste em não querer sentir pequeno
o que, há pouco, parecia nostalgia.

15/03/2004 17:20hs.


Monólogo de um suicida

Passo a corda por meu pescoço
e pulo! Entope-me a aorta, sou forte!
A cara de frente com a cara da morte
Os pés arrastando no fundo do poço.

Pego o estilete afiado - meu pulso
Comprime as artérias drenando meu sangue;
aguardo que o sono – desmaio? – estanque
meu resto de vida num sofrer avulso!

Disparo o revólver na mente confusa
Miolos no piso sujando o carpete,
suspense idiota, novela das sete,
seis balas no cano da roleta-russa!

Ou vivo e a vida matando-me aos poucos,
sorrindo entre dentes de minha inconstância,
tão perto e tão longe de nossa distancia
que faz fenecer este vil homem louco!

08/03/2004 – 15:00hs.


Monólogo de solidão

Recorro às palavras tão sempre que falta,
ser só e ser livre, num quarto fechado.
A vida em sépia no porta retrato,
um palco vazio, sem luz ou ribalta.

Recorro à canção, na qual nunca me basta
cantar meu avesso ao avesso do mundo
que gira e não cessa meu triste e rotundo
remorso. O fim de uma vida nefasta?

Recorro ao sorriso que cansa-me a língua
e não deixa seguir este choro que crio
por que queres chuva, quando sou estio?
O sonho que morre, a lua que mingua.

Recorro à bebida, que desce a laringe,
rasgando-me o medo que vem cabisbaixo,
às vezes me perco, por outras me acho
na lógica triste do que você finge.

10/03/2004 – 02:00hs.


Monologo de despedida

Despeço-me da vida. Como um alcoólatra
deixa o copo na mesa; e procura ajuda,
o tempo de bebida, este, nunca muda,
as mãos seduzem os olhos de um ex podólatra.

Despeço sem um ciao. E não lhe pergunto
A causa de sentir a vida envilecendo
um sonho. Ser poeta, enfim, estar sofrendo
a ânsia de estar só mesmo vivendo junto.

- Adeus! Não vou ficar se ‘inda não consigo
Agir. Fazer aquilo que você sugere:
tornar razão a parte que não foi vivida!

E choro. Há tantos contras no conselho amigo.
Sangrar com a mesma faca que você se fere,
brindar no mesmo copo com outra bebida.

02/11/2003 - 19:00hs.


Monólogo de arrependimento

Depois de quase vinte e duas primaveras,
fechei o cerco à minha volta, descontente,
é só tristeza que me tomas facilmente,
as minhas forças? São desculpas e quimeras!

Depois de quase ter deposto em meu jazigo,
as mesmas cinzas que um dia me assombraram,
haviam medos, hoje já desmoronaram
e eu sou luto, sou o choro de um amigo!

Depois de quase outro porre sem sentido
A busca íntima, um desejo proibido.
Cansei de tudo. Vai haver um novo dia?

Se sou pecado, posso apenas ter tentado
e ter cedido ao que me foi, pois, recusado?
Ou não errei por não saber o que fazia?

14/06/2004 – 13:50hs.










Monólogo para um desconhecido

A noite tão rubra findando. Um verme
em meu corpo. Roendo o que era euforia,
desprezo onde há pouco habitava alegria
de ter em meus lábios teu nome: Guilherme?

Num trago, a malicia à procura de um beijo,
de sexo! Pêlos e pele, excitados,
bom gosto ou eterno prazer pelo errado,
nos olhos a busca do que ‘inda desejo!

- Te amo! E a quem também for companhia,
a mente confusa mostrando carência,
por dentro. Vontade e vontade, não drama!

Do peito, o aperto, de ver outro dia
sem ver-te! Ser meu, nesta quase demência
de tê-lo aqui perto em meu canto de cama.

10/08/2004 – 02:00hs.


Monólogo para Felipe

Poeta! Não me cante sobre o corpo falecido!
Nem me corte a mais sonora melodia!
Seja em mim, o que por nos eu não seria,
Corpo em corpo, n’outro porto adormecido.

Também treme o coração que te acompanha?
Não és lira em minhas mãos, tu és pecado!
Ser um rio em seus janeiros – Corcovado!
Ou a face, que em disfarce, tanto arranha.

Não só tolos sofrem neste paraíso,
nem só vinho satisfaz meu paladar,
ou só damas compartilham meu desejo.

És o mal! Sei, no entanto, que preciso,
O copo cheio ou tais motivos p’ra brindar
e por que não, a indiferença do teu beijo?

06/11/2003 – 21:00hs.









Monólogo para Rafael

Falo! A boca ou o prazer direcionado
ao centro. Do corpo, universo – o meu umbigo!
A mão no púbis descobrindo teu abrigo
No pecador desejo nunca desejado.

Sinto o tato ressoprando a vil fumaça
ao gozar calado. À cama, o findo leite,
te propor o sono, ou outro gole. Aceite
tudo o que procuro e você disfarça.

Arrancar-lhe a roupa e te despir do medo,
seduzir teu sexo, incitar o meu
a praticar a única vontade omissa.

Ver a cama posta, acordando cedo,
encontrar, portanto, o que nunca perdeu,
e ser neste jazigo, uma fútil premissa!

08/04/2004 – 21:40hs.


Monólogo para Helena

Faço o mundo em minha boca, e não reclamo,
abro a vida em meus enganos, não sonetos,
vida nova, nossa bossa e seus defeitos,
desafino quem eu tenho, não quem amo.

Se não sou parte daquilo que invento,
causa nobre é transgredir – a novidade!
Outro porto, outro corpo, outra cidade,
ter a pausa como único momento.

Caiba aqui, entre meus pêlos, fino tato.
Nu. As roupas despojadas na poltrona
e o calor de tuas mãos – entusiasmo!

Sou a pressa nestas noites de asfalto,
ou o medo, que sem meios, me abandona,
e tempo aquém do necessário pr’rum orgasmo!

06/08/2003 – 09:00hs.









Monólogo para David

Tentar dizer o que o corpo se recusa.
- O medo! Sempre o mesmo arroto atravessado,
às pressas, sorte de quem vive magoado
e não revela o que o peito mais acusa.

Tardar o frio como único orgasmo,
apodrecer por não tentar um outro sexo,
o que me inspira, pois senão, haver anexo
à sua escolha, o meu desejo ainda espasmo?

Ater-se aos olhos que deságuam ‘inda fundo,
o desalento, o desencanto ou suicídio,
correntes, chaves – ‘cá se encontram num presídio
o meu prazer e a decência do teu mundo.

E vão dizer, como quem nunca amou o erro:
- fiz eu, da sorte, o meu mais bruto desafio.
Cortar-me os pulsos e causar-me arrepio
com teu corpo! Nesta cama, o desespero...

Amado homem! Sabes que é meu ponto fraco?
E não suporto a busca do que não possuo,
se ganho ou perco, desta vida, eu não recuo.
Tu és o vinho. O meu vinho. Eu sou Baco!

20/06/2003 – 22:00hs.


Monólogo para Thalita

Nem terás minha boca cuspindo
a poeira daquilo que guardo
e não sinto o segredo ser fardo
se escondo de te, mas não minto!

E procuro outra cara que caiba
o esqueleto de fúnebre rosto
da alma. És a farsa! Eu não gosto
que não transpareça, não saibas.

Regurgito meu acre veneno
e destilo o amargo detalhe
-se não queres saber quanto vale
porque ‘inda me sinto pequeno?

O abraço mordaz que me nega
ao que deito meu corpo cansado
é fingido. Ou me tomas ao lado
como causa daquilo que prega?

Ah! Qual semblante lhe engana?
Eu não posso mudar minha cara
por que há de sentir como rara
a razão que a razão não profana?

E então, se me aguarda o Inferno
deixa a vida viver teus escarros.
Sou feliz. bastam vinte cigarros
um conhaque, canção e inverno!


Monólogo para o amor que não diz o nome

Para Cristóvão

É a trágica Grécia medonha,
o que causa meu roto desprezo,
e por meses, o corpo que ensejo
tem na língua a mais fina peçonha.

Não sou nada diante dos meus,
p’ra enxergar-me com olhos de súplica,
fostes eu quem tratou-lhe por única
e agora arrependo – meu Deus!

Nesta corda que alcança o pescoço,
me enforcas. Com escárnio e tortura,
pensas que sou em todo, armadura?
-Não! Sou fraco, por ‘inda ser moço.

E na coxa de parto tão bruto,
nasço Baco. Embriago-me em vinho,
se não queres sair do caminho
logo digas, eu cá, não escuto!

Dama podre, você não me ama?
Então posso cair do rochedo?
Se não sinto-lhe entre meus dedos
hei de vê-la com outra na cama?

14/06/2003 – 19:30hs.


Monólogo de cólera

Embriago-me. Puto. Com minha má sorte,
uma merda de vida a escarnar a platéia,
que traga a fumaça, e entorpece a traquéia,
com o pútrido anseio de dar frente a morte.

Porque vida a mais se só me subtraio?
Provendo o veneno que escorre a entranha
na cama, uma dama, a agir, tal piranha
com a lâmina cega, na língua, eu ensaio

um dueto, que, sóbrio, se faz displicente
das vísceras, alma, a sentir que ausente
encontro-me órfão, em luto e grisalho.

A hóstia mais casta com vinho barata,
o gozo escorrendo sem ser penetrado,
meu peito que peca, ao querer ser caralho!


06/05/2005 – 01:50hs.


Monólogo para um quase 23

Por hora, eu me enxergo com a pena que levo
em perder mais um dia nu luto, perfeito,
se tudo que tento, observo já feito,
por que não findar esta vida que entrevo?

Por hora, eu me ponho na paz que rejeito
de ser, neste baile, o acaso que chora
e por entender que, aqui, não mais mora
a felicidade, eu me rasgo! E no peito

descansa a vontade de vê-la cuspir
sem causa ou repúdio, as verdades que crio
o fim de verão neste corpo, pois, frio,
congela esta alma, deixando-se ir

aonde me aponta a incerteza futura
porque ser do mundo nem sempre é ser parte,
de que vale amor sem que o músculo infarte
a ânsia de ter, pro teu mal, uma cura.

Por hora, eu me alegro, um minuto carente,
ainda a saber que saudade é bem pouco,
prefiro a tristeza, antes que fique louco
o absurdo do chumbo adentrar minha mente!

23/03/2005 – 21:00hs.


Monólogo para Caroline

Não me peças que lhe cante o que não vejo
se sois mais do que tu pensas que enxergo,
ao tentar-me, sinto a vida que te entrego
ser bem mias do que presente! Não desejo

um dia apenas, por melhor, ‘inda me usa
p’ra ser alvo dos enganos que a comete
outra vez o mesmo enredo se repete
não amor, por preferir ser mera musa

destes textos, que sozinho, eu reescrevo
sem saber se alguém irá, então, vivê-los
porque só, já não me basta entende-los,
sei que posso, mas também sei que não devo

cortejá-la com a inocência de um afeto
que o mundo obrigou ser teu amigo
mas se queres amizade, eu não consigo
ser tão pouco, quando posso ser completo.

24/03/2005 – 19:15hs.


Monólogo do dia anterior

Triste. A não caber no leito a cara de sono,
se dormir sozinho é não dormir direito,
o café sem doce e o cigarro têm feito
a melhor companhia neste fim de outono.

Não quero conselhos. Dê-me logo um barbante,
uma caixa vazia na noite tristonha,
se o sono é de porre, esta paz é maconha
ou causa de tanta cerveja e calmante?

E me iludo à espera da morte almejada
ao cuspir esta droga a descer na privada
o excesso do medo que não se alivia...

Desistir do rascunho e enxerga-se bem fundo
no canto do quarto, que aos prantos, me afundo
mas lua – e cheia – não é covardia?

24/03/2005 – 19:10hs


Monólogo de avareza

Cobrando-me à vista, o que a prazo, eu não tenho
por juros, entendo, o que é verdadeiro
no beco a esmola, e no mundo, o dinheiro
é o ganho que quero e, portanto, desdenho

essa arte – a cobiça – de ser milionário:
uma casa, dois carros, e tudo se vende,
ser livre nas asas que ao corpo me prende
por módico preço, um papel de otário!

Mais um! E apenas, por que participo
do lucro e da perda que a vida oferece?
E parcela o Inferno se for pela prece?

O caminho mais curto, e eu, me dissipo
de mim, fica o medo a criar maior drama.
Cansei de ter paz, eu preciso é de grana!

28/04/2005 – 14:00hs.



Monólogo para Rodrigo II

Um novo começo, em mim, regozija,
o olhar inquieto, com as mãos ao volante
a lembrança mais turva a fazer do instante
o passar apressado das horas. Dirija

esta vida com o tato que põe em meu sexo,
a boca, o sorriso de pura malícia,
o beijo que agride, e meus lábios vicia
no gosto que tens, a deixar-me perplexo!

A calma que surge mas não adormece,
sem antes fazer da vontade uma prece:
pedi-lo em defesa ao meu corpo que treme

em tocá-lo, outro mundo transpõe meu receio
e viver-lhe ao extremo, por não ver tal meio
senão o que finda com a boca que geme!


17/04/2005 – 20:00hs.


Monólogo de uma amor quase perdido

Será que transpareço a falsa calma que escondo
Ou simples, não engano, a quem me cerca, combalido?
Sentir findar na alma este desejo reprimido,
que grita como fosse a lua, cheia, já se pondo

no riso, que eu lembro, mas por pouco não revejo,
no corpo, que insinuo, ao ver na cama a tez macia,
na noite, que desliza em minha pele, e adormecia
a paz – tão provisória! – a me quietar com terno beijo!

Meu homem, és a culpa que se encerra em meu silêncio
ou tal mordaça, põe-te a evitar-me por receio?
Por que não vive a vida inteira, e faz de mim teu meio
a ser a parte outra que completa-te? Propenso

a reviver o antes como se fosse o futuro,
um livro aberto, às pressas, sem ninguém ter nunca lido,
pra cada amor que lembras, um, portanto, não vivido
reclama tua ausência, por amar a ti! Eu juro

não ser memória afresca onde posso ser presente,
enxerga-me além do que observa esta retina
que sabes que aprende, mas não vês que me refina
o amor que salta o peito, e que repousa em minha mente!

08/06/2005 – 21:20hs.



Monólogo para Thiago

A noite pedindo uma boca. O estranho
a tocar em meus lábios teus lábios de ira
aqui me ofereço, e prefere a mentira
de quem te merece? Não eu! Se não ganho

é por crer que meu corpo, no seu, é reflexo,
a pele a pedir o calor d’outro homem,
ao ver tua tara, o meu riso consome,
o que vai lhe dar quem só quer o teu sexo?

Nem sei como alguém pode ser tão nojento
que a língua que acoita sem ver que o momento
de ir é agora! Por que o martírio?

então relembrar, sendo só sofrimento
extraindo do corte o maior sangramento.
Preciso de colo e me dou ao exílio?

15/10/2004 – 05:20hs.

2 Comments:

  • At 11:01 PM, Anonymous Anônimo said…

    deeell
    adorei a pagina
    não li tds mas os q li gostei XD

    O monólogo para um desconhecido q me fez pensar na sugestao q te dei ;D

    *:

     
  • At 1:07 AM, Anonymous Anônimo said…

    ah, li todos enfim! :D
    muito bom mesmo!
    não sabia que você escrevia tanto!
    tenho alguns preferidos;
    do dia anterior
    para o amor que não diz nome
    para felipe
    para gabriela
    da despedida
    de arrependimento.. etc etc
    :D tá lindão o blog!
    beijo

    :*.

     

Postar um comentário

<< Home